terça-feira, 26 de abril de 2011

Os verdadeiros Culpados

Voltei a sonhar... e desta vez fui um "inquisidor mor" ao serviço da famosa e já, entre nós, enraizada, Troika... Incubiu-me, a Troika, de investigar e encontrar os verdadeiros culpados (têm mesmo de ser os verdadeiros !...  exigiram-me veementemente...) da situação de crise que o nosso (nosso por enquanto) Pais angustiadamente vive...

Não me fiz rogado e com a ajuda de reconhecidos politólogos (claro que também temos destes !...  se até temos submarinos caros.... atão um País como o nosso podia lá dispensar-se de ter politólogos), dizia eu, com a ajuda de reconhecidos politólogos, investiguei !...



E depressa concluí tão espinhosa e dura missão ...

O Presidente e os três Ex-Presidentes, certamente, não têm nada a ver com a crise... Antes pelo contrário !.... São pessoas notáveis, de capacidades imensas e a quem o país muito deve... Ai se não fossem eles.... se não fossem eles e estávamos, de certeza, bem pior... (Nesta altura ouvi um trovão imenso e o céu desenhou um raio pouco amigável... intrepertei este sinal como uma previsível mudança de tempo...) Como é que ninguém os ouviu antes ? E como não os ouvem agora em plena cerimónia comemorativa do 25 de Abril ? Definitivamente, estes não têm nada com o que se está a passar...

Analisei então o discurso dos Deputados e dos Partidos políticos e das suas ilustres e altruístas personagens que, reconhecidamente, se sacrificam, pessoal e familiarmente, em nome dos altos valores da Nação, da defesa e da prossecução do interesse e do bem público. Impossível serem eles os culpados, muito menos os verdadeiros culpados... Os seus discursos e ideias que possam ter, ainda que implicitamente, mostram-nos que sem a sua acção, seja à esquerda, seja à direita, seja ao centro ou seja, ainda, a outra direcção qualquer desde que exista no panorama político nacional, tudo isto seria, hoje, um verdadeiro caos !... Graças a eles, sobrevivemos !... (... não é que o raio do raio parece que se esticou do céu e me mordiscou, repetidamente, as orelhas ?) Estes também não têm nada a ver com a crise que se instalou... aliás, se olharmos na perspectiva certa veremos, sem dificuldade, que praticamente todos eles são credores da Pátria, quer pelos serviços que prestaram quer pela disponibilidade, em claro prejuízo próprio, que sempre manifestaram...

Ocorreu-me, então, que o culpado, o verdadeiro culpado tivesse sido e seja, ainda hoje, o Povo !... Trabalha pouco e é malandro, pensei eu... e a ideia instalou-se e enraizou-se mesmo... por isso é bem capaz de ser a verdadeira verdade, voltei eu a pensar... Assim, após aturado processo de investigação e estudo dirigi-me à Troika e apresentei-lhes as minhas brilhantes conclusões.  Com firmeza e sentido de Estado transmiti-lhe (à Troika, evidentemente): 
- Os três culpados, os verdadeiros culpados são o Manel Joaquim, o Zé Bastos e a Antonieta Lopes !...
(... o céu ficou escuro, trovejou, relampejou e choveu a cântaros... os raios fulminaram-me sem dó nem piedade...e só a pronta intervenção dos "amigos" Sócrates e Passos me livraram do poder destas forças da natureza... Pude, assim, prosseguir com a apresentação do resultado da minha intensa investigação...)

O Manuel Joaquim, pescador e agricultor nas horas vagas. Dá, assim um mau exemplo. O exemplo de uma pessoa verdadeiramente egoísta e monopolizadora. Não lhe basta ser pescador e, ainda, pratica agricultura nas horas vagas... Tal prática distorce a concorrência, rouba emprego e desincentiva o consumo !...

O Zé Bastos, comerciante. Tem uma mercearia aberta todos os dias e não encerra para férias há mais de 30 anos... Faz concorrência desleal ao tecido produtivo das grandes superfícies e incentiva o consumo excessivo e o endividamente pois vende fiado à maioria dos seus clientes...(ainda por cima pobre e remediados...)

A Antonieta Lopes. Professora. Tem exigido e praticado uma avaliação demasiado rigorosa dos seus alunos motivando vários chumbos apenas porque os seus alunos ou não sabem a matéria ou chegam atrasados ou lhes apetecem conversar durante as aulas...

A Troika ouviu-me, atentamente, e mandou o Governo actuar em conformidade. E o Governo actuou:

O Manuel Joaquim foi informado que se insistir nessa prática  fica impedido de ter acesso a qualquer financiamento comunitário e que a sua reforma nunca poderá execeder os 2500 € mensais. Informaram-no, ainda, que deve declarar os rendimentos de ambas as actividades em sede de IRS e promover os descontos para a Segurança Social (Não percebeu o recado nem percebeu o que é financiamento comunitário... ficou com medo que os 2500 € fossem alguma multa qualquer e resolveu emigrar )...

O António Alberto foi visitado e fiscalizado pela ASAE... e certamente, não será preciso dizer mais nada... (Confrontado coma necessidade de construir 3 casas de banho, de informatizar todo o sistema de facturas/recibo, de sinalizar entradas e saídas do estabelcimento, de instalar novas prateleiras, ter de ter empregados credenciaidos e essas coisas todas, absolutamente necessárias, o António ficou aterrorizado e resolveu encerrar tudo... foi tentar emprego público... meteu uma cunha, tem emprego e está feliz: faça muito ou faça pouco, recebe todos os meses, tem férias, faz fins de semana, recebe 14 meses e trabalha 11 e ninguém o chateia...)

A Antonieta Lopes vai ser sujeita ao famoso sistema de avaliação (SIADAP) e, posteriormente, ser convidada a aposentar-se por manifesta incapacidade de se enquadrar nos novos contextos de modernidade. (A Antonieta pensou e acabou, mesmo, por se convencer,que está louca...)

É nesta altura que mais um raio de um raio me volta a atingir e que acordo sobressaltado... e desta vez, ainda mais, transpirado, sentado na cama e a gritar "Afonso, porque desobedeceste à tua mãe, carago ?!..."

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